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Por que você me deixou fazer isso?”

  • 14 de ago. de 2023
  • 2 min de leitura

Após ouvir de uma cliente “Eu já sabia que ia dar errado!”, quando ela estava se dando conta que há algum tempo já havia tido a percepção que aquele relacionamento não seria bom para ela, veio a pergunta direcionada a mim: “Por que você me deixou fazer isso?”. Este questionamento não é raro no processo terapêutico e quero compartilhar algumas reflexões:

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Me pergunto se o cliente realmente espera isso de mim: que eu, como psicoterapeuta, o impeça de fazer algo. No caso específico desta cliente, a sua pergunta foi seguida pela resposta de entendimento que ela sabia que não era o meu papel atuar por ela. Mesmo assim, conversamos que talvez sim, emocionalmente, há uma pontinha de vontade do cliente que alguém interfira em sua vida, assumindo o comando e dizendo “faça assim” ou “não faça isso” ou “fale de tal maneira”, etc.


Este tipo de dinâmica costuma aparecer nos relacionamentos importantes da nossa vida, não é mesmo? E às vezes ocupamos as duas pontas, os dois papéis. Quem nunca desejou que alguém considerado mais experiente ou mais sábio dissesse como fazer ou não fazer, talvez ditar normas, caminhos ou até, magicamente, dar soluções? Fiquei pensando que muitos relacionamentos iniciam com esta busca de um padrinho e uma madrinha mágicos, salvadores, que com uma varinha de condão apontam o caminho e tudo fica bem!


E na outra ponta estão aqueles que rapidamente atendem a esse chamado de ajuda aos “mais frágeis e incapazes de autocuidado” e realmente acham que podem e sabem dizer qual é o melhor caminho, a melhor maneira de ser e agir, e de fato acreditam que são poderosos e têm sempre a resposta certa para o outro.


Alerto que uma mesma pessoa pode ocupar as duas pontas, em espaços ou relacionamentos diferentes. Ou, pode realmente ter um “papel” preferido nesta dinâmica.


Na psicoterapia, é muito bonito e transformador ver quando os clientes vão deixando as ilusões de lado, resgatando seu lugar de força: nem de impotência (“não sei nada, não dou conta de nada”) e nem de onipotência (“eu sei de tudo, resolvo tudo sozinho”) e começam a, serenamente, buscar suas melhores escolhas por si mesmos.


Fiquei pensando também nesse lugar precioso e cuidadoso que é o ser psicoterapeuta, o facilitador do processo de autoconhecimento e desenvolvimento. O profissional escolhe quando é necessária uma intervenção, uma orientação, e quando é preciso um acolhimento, um simples estar ali, acompanhando esse processo incrível que é ver o cliente assumir quem verdadeiramente é, com toda sua força!


Talvez você esteja se perguntando sobre a minha cliente que mencionei no início do texto. Bom, ela saiu da sessão ciente de que não sou eu como psicoterapeuta que “deixo” ou “não deixo” ela dizer ou fazer algo. A parabenizei por mais uma dose de consciência, uma consciência lúcida, leve, que resgatou a própria força com um lindo sorriso que me dizia “vou cuidar melhor de mim!”. E eu sorrio para você com o desejo de que cuide bem de si mesmo.

 
 
 

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