Tal pai, tal filho? #soquenao
- 19 de abr. de 2021
- 4 min de leitura
Atualizado: 15 de set. de 2022
O que é continuismo e anticontinuismo na escolha da profissão

Vou começar esta reflexão com uma pergunta: há alguma profissão que se repete nas últimas três gerações da sua família? Isso pode ser comum em muitas famílias. E o jovem pode ter habilidades e interesses para áreas afins ou relacionadas com a profissão de um dos pais ou pela profissão exercida por um ou mais familiares.
Uma das perguntas que mais ouço quando este assunto surge durante as orientações de escolha de carreira é: “Tem problema seguir a mesma profissão dos pais ou de alguém da família?” E a minha resposta costuma ser: “Pode ser que sim, pode ser que não! (risos).” Tem problema se essa não for uma opção verdadeira que o jovem queira escolher, e faça uma escolha sem autonomia, guiado por aspectos que estão fora do campo da consciência.
O CONTINUISMO ocorre quando o jovem sente que necessariamente TEM QUE seguir a mesma carreira que os pais ou familiares. Ele pode ter vontade de dar continuidade à essa profissão, e essa autocobrança tende a aumentar se a profissão é exercida por mais de um familiar.
Algumas famílias fazem, sim, uma pressão (ou indução) para que o jovem siga na mesma área porque consideram essa a melhor opção. Algumas falas dentro de casa são: “Veja como deu certo para nós”, “você será o futuro herdeiro e vai tocar os negócios da família”, “se seguir nessa profissão já tem emprego certo e lugar garantido”. Considero um aspecto negativo se o jovem escolhe a profissão familiar por medo de desagradar ou porque está inseguro em fazer uma escolha diferente, sentindo medo de não alcançar o sucesso por si mesmo.
Por outro lado, o CONTINUISMO é uma escolha ótima se, dentro dos interesses do jovem, há vontade e prazer em seguir determinada área, independente de ser a mesma profissão dos pais; se ele percebe que tem afinidades, habilidades e caraterísticas pessoais que se encaixam bem na profissão desejada; se avalia as opções existentes de curso e mercado de trabalho e percebe que, sim, seguir a mesma profissão é a sua vontade consciente.
É importante reconhecer a influência dos pais e familiares para uma decisão profissional madura. Filhos apreendem essa e outras experiências vivenciadas pelos pais, seguem com alguns dos aprendizados e optam em fazer diferente em outros. Então, tudo bem se o jovem escolhe um campo profissional que coincide com um dos familiares, desde que tenha consciência de suas motivações e autonomia para escolher.
Já o ANTICONTINUISMO ocorre quando “de jeito nenhum” o jovem quer ou aceita fazer determinado curso ou profissão só porque coincide com a profissão ou o desejo dos pais, familiares, ou de um deles. O jovem pode apresentar interesses e perfil apropriado para uma área, mas rejeita essa possibilidade para não ser igual ou não fazer a mesma coisa que alguém da família. Esse descarte é um “NÃO” automático como resposta absoluta, sem reflexão e análise, e pode partir de um aprendizado ou conclusão tirada a partir de mensagens recebidas de algum familiar, que sejam contrárias a seguir a mesma profissão: “Você pode fazer tudo na vida, menos ser professor” – eis a mensagem transmitida pela mãe, que é professora. Outra possibilidade é tirar conclusões a partir das vivências que teve em casa: “Não quero fazer arquitetura porque não quero ter a vida de minha mãe”. Ou, partir de ideias distorcidas, contaminadas, de que se estiver na mesma área estará fazendo um “repeteco”, sendo “uma cópia” dos pais. Ou ter a falsa ideia de que os pais estarão dominando-o ou tomando conta da sua vida.
Vários jovens me disseram que eles querem uma área diferente dos pais porque precisam provar que são capazes de ter sucesso independente deles, e que se forem para a mesma área sempre serão vistos como “filhinho do papai” ou “filhinha da mamãe”, que só teve sucesso porque está “nas costas” de alguém, etc.
Quando o jovem tem perfil e quer a mesma área, é importante que esses aspectos sejam trabalhados e orientados. Eu costumo fazer isso durante o processo de orientação profissional, com a descontaminação de pensamentos distorcidos, que às vezes nem estão conscientes para o jovem. Isso trará para o orientando maior clareza, segurança e consciência para fazer a sua escolha.
Submissão e rebeldia
Na Análise Transacional, uma das teorias de Psicologia para entender o comportamento que orientam meu trabalho, há dois conceitos que quero compartilhar: Criança Rebelde e Criança Submissa. Essas são nomeações de reações emocionais automáticas, que aparecem em comportamentos entendidos como submissão ou rebeldia a algo. Quando acontece a reação de submissão, falamos que a força de ação está na Criança Submissa - o jovem se mostrará submisso e dependente, deixará de lado o que ele quer para cumprir as expectativas de outras pessoas ou para realizar o que “ele pensa” que são essas expectativas. Ele deixa de olhar o que ele sente, quer e pensa – e age no automático. Quando essa força está em reações que exprimem uma rebeldia, falamos que surge a Criança Rebelde, o jovem será “do contra” e terá pensamentos assim: “Se minha família quer ‘x’, então eu não quero. Se minha família não quer que eu faça ‘x’ profissão, é bem essa que vou escolher”.
Olha que interessante: a autonomia para decidir o que quer não está presente! Portanto, dar espaço para o jovem se autoconhecer é essencial neste processo de escolha, para ele poder nomear o que está sentindo e pensando e o que o está influenciando na decisão. Os pais podem – e devem – promover momentos de conversa a respeito do assunto, estimulando a jovem a pensar por si mesmo.





Comentários